terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Crédito em 2010 deve atingir marca recorde de 53% do PIB




Com a aproximação do fim do ano, os bancos preparam seus orçamentos para o calendário seguinte e fazem projeções de quanto o crédito deve crescer em 2010. Por enquanto, as grandes instituições ainda não divulgaram suas estimativas aos analistas de mercado ("guidance"). Mas algumas projeções apontam que o crédito poderá atingir a marca histórica de 53% do Produto Interno Bruto (PIB) ao final do próximo ano. É o que estima o economista José Roberto Mendonça de Barros, da consultoria MB Associados. O Bradesco calcula número semelhante para 2010: 52% do PIB, diz o diretor Nilton Pelegrino. Mendonça de Barros projeta que a relação crédito/PIB deverá fechar 2009 em 48%.

Se as projeções para 2010 estiverem corretas, o estoque de crédito na economia poderá se expandir entre R$ 330 bilhões e R$ 380 bilhões ao longo do próximo ano, atingindo um total de R$ 1,7 trilhão a R$ 1,75 trilhão. Em outubro, segundo dados do Banco Central, o saldo de operações de crédito dos bancos atingiu R$ 1,367 trilhão.

Desde 2002, os empréstimos têm avançado a uma taxa equivalente a cinco vezes o avanço do PIB. Para 2010, a conta não deve ser diferente e o estoque de empréstimos deve ter expansão na casa dos 25%, dado o avanço do produto acima de 5%. Se a economia crescer acima de 6%, como já apontam alguns analistas, o crédito poderá avançar cerca de 30%.

Para o economista da Febraban, a federação dos bancos, Rubens Sardenberg, o sistema financeiro ainda tem um bom caminho para expandir o crédito. Mas ele pondera que a relação crédito versus PIB não é tão pequena quanto se pensa, pois no Brasil a parcela de financiamento imobiliário é muito baixa, perto de 3% do PIB, ao contrário de outros países em que a hipoteca responde por quase metade dos empréstimos. Por esse raciocínio, as demais modalidades de crédito tem menos espaço para crescer do que o número consolidado pode sugerir.

O crédito imobiliário deve ser justamente a mola propulsora para os próximo anos. O Bradesco acredita que essa relação com o PIB pode atingir 10% nos próximos anos, dada a procura por investimentos em novos projetos. Em outubro, o saldo para pessoas físicas no sistema atingiu R$ 81 bilhões, com crescimento real de 167% desde 2004. Há ainda estoque de R$ 25 bilhões em contratos com construtoras e incorporadoras para o financiamento das obras, ultrapassando R$ 105 bilhões, segundo o BC.

Antonio Barbosa, diretor do HSBC, lembra que neste ano as concessões devem crescer pouco, ou mesmo repetir 2008, atingindo R$ 30 bilhões em novos negócios, dada a queda de lançamentos das incorporadoras logo depois da crise. Para os próximos anos, no entanto, a expectativa é de expansão em torno de 30% ao ano.

Com tanto dinheiro disponível, um recorde para o sistema financeiro, uma pergunta começa a se fazer presente: faltará tomador para tanto recurso? Os bancos dizem que não, mas nem todos concordam com essa avaliação.

"Estamos longe do máximo do endividamento no consumo e temos muito espaço para crescer", afirma Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil. Segundo ele, a manutenção do crescimento da massa salarial, que teve pouca oscilação com a crise, aliado à manutenção do emprego e da renda, garantem essa margem para continuar a expansão.

Existe também a possibilidade de se flexibilizar a taxa de juros e os prazos de empréstimos. Esse ganho é chamado no jargão de mercado de "efeito condições". Isso porque ao se reduzir os juros e aumentar o número de parcelas é possível ampliar o valor financiado com menor comprometimento de renda com cada prestação. "O cliente toma mais recursos e compromete percentual menor do salário", explica Malieni.

Do ponto de vista dos bancos, obviamente, as perspectivas são muito boas, com expansão da economia e juros bancários ainda num nível relativamente elevado. Mas essa enxurrada de recursos prometida para 2010 pode beneficiar também o tomador final. É a famosa relação oferta e demanda em ação. "Durante a crise, houve aumentou de crédito nas linhas mais caras. Isso significa uma demanda mais fraca nas outras linhas. Na retomada, a tendência é migrar para linhas mais seguras e deve haver uma queda de spread por conta disso", diz Sardenberg.

Há opiniões dissonantes no mercado. Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo afirma que o limite para expansão de crédito não vai ser o apetite dos bancos, mas sim o do tomador. "O ritmo de crescimento do crédito tem sido superior a massa salarial. Partiu de bases muito baixas, é verdade. O consumidor estava virgem em termos de endividamento quando começou, mas já tem um tempo razoável que ele vem se endividamento."

Solimeo continua dizendo que a massa salarial vem crescendo na casa dos 5%, 6% ao ano, enquanto o crédito avança na casa dos 20% desde 2003. "Não dá!", afirma, categórico. "Em 2010, o crescimento deve ficar na casa dos 15%, por falta de espaço no bolso das pessoas. O grau de endividamento das famílias, de 5 anos para cá, praticamente dobrou em proporção da renda disponível." Desde 2003, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) registra uma média de 10 milhões de novos CPFs consultados a cada ano no cadastro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). São consumidores que foram fazer uma compra parcelada ou que tentaram tomar um empréstimo em algum banco ou financeira.

Nos últimos dois anos, esse número de entrantes vem caindo e deve fechar 2009 com 7 milhões de novos registros. "Há duas explicações para queda. Uma é a própria crise. Outra é que na medida em que a base aumenta, entra menos gente. O grande salto de entrada de pessoas no sistema já se deu nesses últimos anos e em 2010 o ritmo já deve ser outro", afirma.

Mas há um novo componente que pode fazer a diferença: a tão falada classe C. Entre 2003 e 2008, segundo levantamento da FGV, 25,9 milhões de pessoas entraram na classe média e outras 19,4 milhões de pessoas deixaram a classe baixa. Esse exército está ávido por recursos e pode ser atendido por bancos e financeiras.

Dados do BC apontam crescimento de 30% do número de CPFs com relacionamento ativo no sistema financeiro. Em junho de 2005 haviam 84 milhões. Em setembro de 2009, esse contingente pulou para 108,8 milhões. Esse público interessa cada vez mais aos bancos. "A renda média dos nossos clientes de cartão de crédito é de R$ 1,6 mil e a operação média de crédito pessoal é de R$ 1,5 mil", diz Luiz Sebastião Sandoval, presidente do grupo Silvio Santos, que comanda o PanAmericano, que acaba de ter 35% do seu capital comprado pela Caixa.


Fonte: Valor econômico

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