segunda-feira, 24 de agosto de 2009

‘Nunca se tratou da fé, era tudo por dinheiro‘



Duas semanas após o Ministério Público de São Paulo denunciar o bispo Edir Macedo e mais nove pessoas por lavagem de dinheiro, O GLOBO conversou com ex-pastores da Igreja Universal do Reino de Deus na África do Sul, um dos cinco países onde, segundo o MP, ocorreram movimentações financeiras suspeitas.

Eles revelaram detalhes sobre o funcionamento da instituição no país e disseram que eram ensinados a “tirar dinheiro de fiéis usando trechos da Bíblia”.

Afastado da Universal desde 2004, Frans Nkabane contou que os pastores passam por um curso de seis meses antes de serem ordenados.

— Para convencer os fiéis, é preciso nos convencer antes. No curso você aprende que, para ser um bom pastor, é preciso conseguir bastante dinheiro.

Mas tudo é feito indiretamente, através de versículos da Bíblia, e muitos não percebem no que estão se metendo. Hoje eu vejo que nunca se tratou da fé das pessoas, era tudo pelo dinheiro.

A Universal não é uma igreja, é um negócio — criticou.

O ex-pastor disse ter sido afastado sem justificativa. Segundo ele, mais de 800 pastores foram expulsos nos últimos anos com base em acusações falsas de adultério ou por questionarem a Igreja: — Acho que eles tiveram medo que eu soubesse de algo que pudesse incriminá-los.

Nkabane contou que todos os dias os pastores iam cedo ao banco para depositar o valor levantado nos cultos em uma conta da igreja. De lá, o dinheiro era imediatamente transferido para o Brasil. Ele reclama que enquanto a igreja “arrecada milhões”, os pastores recebem salários inferiores a quatro mil Rands (menos de R$ 1 mil): — Trabalhei lá por cinco anos e saí sem nada. Não recebi indenização ou seguro-desemprego.

Outro pastor, Marcus Marungwane, disse que o valor transferido diariamente para a conta da igreja no Brasil chegava a 20 milhões de rands (cerca de R$ 4,5 milhões). Ele
disse que teve acesso ao histórico de transferências da Universal com a ajuda de uma amiga que trabalha no banco onde a instituição mantém conta na África do Sul: — A igreja alega que o dinheiro é investido na construção de outras sedes no país, mas, se você olhar em volta, muitos cultos ainda são realizados em tendas, sem a menor estrutura.

Ele disse ter começado a suspeitar do funcionamento da igreja pouco antes de ser ordenado pastor, principalmente por causa do elevado número de colegas afastados pela Universal ou que a deixavam por conta própria.

— Se muita gente sai da igreja, algo está errado. Quando eu questionei o destino do dinheiro, os advogados da Universal me entregaram uma carta pedindo que me afastasse imediatamente por representar uma ameaça à igreja. As sedes da Universal são cercadas por segurança, o que eles temem ser descoberto? — indagou.

Nkabane afirmou que a Universal possui carros luxuosos e mansões numa área nobre de Johannesburgo, mas que tudo é escondido dos pastores sulafricanos.

Somente os bispos brasileiros, que detêm o controle da igreja no país, teriam acesso ao patrimônio.

As denúncias dos ex-pastores ganharam destaque no jornal sul-africano Sowetan em março deste ano। Mas o Ministério da Justiça da África do Sul informou que não existe investigação sobre a Universal no país.






Fonte: O Globo

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